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[Coluna]O principal fator de risco para doenças mentais

Foi Freud quem disse uma vez que, por trás de todo adulto problemático existe uma criança ferida.
De um modo geral, os transtornos mentais continuam sendo um mistério para a ciência. As causas dessas condições têm sido investigadas em muitos campos do conhecimento ao longo da história. Mas, desde a virada do século XIX para o XX, em suas primeiras publicações psicanalíticas, Freud já apontava as adversidades da infância como o principal fator de risco.
De uns anos para cá, a neurociência tem contribuído muito com a psicanálise ao conseguir comprovar diversas de suas teorias. Exemplo disso é um estudo apresentado em 2020 pela Dell Medical School, da Universidade do Texas, Estados Unidos.
A pesquisa assegurou que o principal fator de risco para doenças mentais são as experiências adversas durante a infância. E, como Freud já previa, estas experiências têm consequências profundas, tanto para a saúde física quanto mental.
Quando falamos em adversidades na infância, estamos nos referindo a situações de maus-tratos, abusos físicos, psicológicos ou sexuais, assim como experiências traumáticas (grandes perdas ou deficiências significativas).
Os pesquisadores apontaram que as adversidades na infância são o principal fator de risco para doenças mentais, mas também afirmaram que essas experiências têm outras consequências graves.
Uma criança que passou por experiências difíceis ou traumáticas, por exemplo, tem uma expectativa de vida menor do que aquela que cresceu em um ambiente estável. No caso daquelas que sofreram alguma forma de abuso infantil, elas estão mais propensas a desenvolver doenças como obesidade, derrame, diabetes, algumas formas de câncer e problemas cardiovasculares.
Além disso, do ponto de vista psíquico, as crianças abusadas têm um maior risco de desenvolver vícios, principalmente o alcoolismo, assim como depressão e todos os tipos de transtornos.
A pesquisa trouxe um dado, ao mesmo tempo, curioso e alarmante: Uma em cada quatro crianças no mundo é vítima de alguma forma de abuso ou falta de afeto. É alarmante pelo número proporcional à população do planeta. E é curioso porque, o que é mais frequente são aqueles casos em que ocorre abuso emocional, negligência ou abandono. Quer dizer, muita gente não leva em consideração que certos excessos cometidos pelos pais ou cuidadores ultrapassem o limiar do abuso emocional, por exemplo.
Olhando para os adultos (que logicamente passaram pela infância), a pesquisa apontou que, pelo menos, 46% das pessoas com depressão e 57% de quem sofre de transtorno bipolar apresentam esse tipo de histórico de abuso, negligência ou abandono. E quanto mais cedo ocorre o abuso, mais graves são suas sequelas e mais difícil é ajudar essas pessoas na idade adulta.
A gravidade e a duração do abuso sofrido também são fatores que influenciam o problema. Em todo caso, mais uma vez os pesquisadores reforçam as teorias psicanalíticas ao destacar que todas as formas de abuso na infância deixam sequelas ao longo da vida. Sendo este, de longe, o principal fator de risco para os transtornos mentais.
O abuso emocional e a negligência são formas de violência que não deixam sequelas perceptíveis à primeira vista. Muitas crianças expostas a essas situações nunca consultam um profissional de saúde mental quando são adultas, porque não acreditam que tenham sido vítimas de abusos reais.
É muito comum, na clínica, alguns adultos chegarem decepcionados com a vida ou com o seu próprio desempenho e nem sequer se darem conta de que as causas disso podem estar ligadas ao abuso infantil que sofreram. Isso porque a maioria das pessoas acredita que o abuso é caracterizado apenas pela violência física ou sexual.
Finalmente, além de algumas questões genéticas envolvidas, os pesquisadores destacam que foram encontradas mudanças nos cérebros de crianças abusadas. Elas tendem a ter um volume menor de massa cinzenta, assim como uma espessura menor no córtex pré-frontal ventral e dorsal.
Evidentemente, que ainda são necessárias mais pesquisas sobre o assunto para aprofundar todas as descobertas realizadas. Mas uma coisa é certa: Pais e cuidadores, principalmente de crianças na primeira infância, precisam estar mais atentos à sensibilidade psíquica dos pequeninos. Como bem dizia Oscar Wilde, “a melhor maneira de criar crianças boas é fazê-las felizes”.

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Silvio Carneiro

Silvio Carneiro Bastos Neto é graduado em Jornalismo (UEPB). Possui formação em Psicanálise Clínica (IBPC; Campinas-SP) e Terapias Holística (Instituto 3ª Visão; Garibaldi-RS). Possui pós-graduação em Psicologia Positiva (PUCRS; Porto Alegre-RS) e Docência do Ensino Superior (Meta; Macapá-AP). Contatos: (96) 98132-2705 (Whatsapp)

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