[FORA DA GREI] – Sobre Carnavais e Fantasias
Para quem sentiu falta desta coluna na semana passada, começo este texto pedindo desculpas pela ausência. Explico: Eu estava experimentando minha fantasia de Homem Invisível para este feriadão de Carnaval. Assim, espero alcançar meu objetivo de ninguém esbarrar comigo por esses dias em algum bailinho clandestino ou bloquinho de (minha) rua…
Nunca gostei de Carnaval. Nunca simpatizei com a ideia de me recalcar durante 359 dias para, uma vez por ano, por um curtíssimo período de 6 dias tentar colocar pra fora todas as minhas fantasias mais inconfessáveis – ainda que disfarçadas da mais inocente brincadeira.
Por outro lado, não sou aquele sujeito chato que fica julgando quem curte esse sadomasoquismo cultural cristão – sim, porque não esqueçam que o Carnaval faz parte do calendário de festas (ou efemérides, pra ser mais exato) da igreja católica! Enfim, cada um na sua.
Mas para mim, o Carnaval é um espaço para alegrias patéticas; carências afetivas e loucuras culposas – ninguém até hoje conseguiu me convencer que uma pessoa que passe quase uma semana inteira sorrindo pra tudo, pra todos e de todos; bebendo, fumando, etc.; beijando e transando desesperadamente com qualquer coisa que se mova diante de si e ouvindo músicas horríveis como se fossem o Cântico dos Cânticos, ninguém, repito, até hoje conseguiu me convencer que uma pessoa dessas é alegre sem ser patético, sofra de sérias carências afetivas e carregue terríveis culpas por nunca ter conseguido ser quem quis ser…
A realidade carnavalesca é quase que a mesma da realidade virtual das redes sociais. Por exemplo: Na minha fantasia cibernética eu não sou um psicanalista. Eu sou economista, cientista político, filósofo, esquerdopata-isento-bolsomínion, analista de reality-show e membro do comitê de diplomacia da ONU. Fico pateticamente feliz quando recebo likes em minhas postagens de memes, correntes de oração e frases de autoajuda; supro minhas carências afetivas me exibindo o tempo todo para que alguém me deseje ou deseje ter a minha invejável vida medíocre e tento exorcizar minhas culpas e recalques tentando a todo custo mostrar como eu sou inteligentinho e como minha opinião pode causar grandes mudanças no mundo.
E assim é que, neste Carnaval de pandemia, BBB e conflitos internacionais, estarei elegantemente vestido com minha fantasia de Homem-Invisível. Se me virem por aí, não sou eu! Até semana que vem – nunca se sabe…