Dia da Imprensa: ataques contra jornalistas cresceu 105,77% em 2020
Só em 2020, família Bolsonaro foi responsável por 469 ataques a jornalistas e veículos de imprensa, segundo dados da ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Nesta terça-feira, 1º de junho, é comemorado o Dia da Imprensa. Mesmo com a data sendo celebrada oficialmente, ainda se discute sobre os ataques sofridos por profissionais da comunicação. De acordo com o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil (2020), o ano passado foi o mais violento para os jornalistas, desde o início da década de 90.
O estudo coordenado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mostrou 428 casos de ataques, abrangendo dois assassinatos, que resultou em um crescimento de 105,77% em comparação a 2019, ano que também ficou marcado por violações aos direitos da imprensa no Brasil.
De acordo com a FENAJ, um dos fatores cruciais para o aumento de casos de violência contra jornalistas no país é a influência do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido). Só o chefe de estado constituiu 175 registros de violência contra a categoria (40,89% de 428 casos): 145 ataques generalizados e alguns direcionados à mídia e jornalistas específicos; 26 agressões verbais, uma ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à Globo e dois ataques a FENAJ.
Gênero
Em linhas gerais, as mulheres são as mais afetadas pela violência, e esse número cresce exponencialmente se levarmos essa profissional para o ambiente digital. Levantamentos recentes mostram que mulheres estão mais suscetíveis a perseguições na internet no Brasil e no restante da América Latina.
A maior parte das ofensas direcionadas à mulheres jornalistas possui teor machista, sexista, misógino e/ou preconceituoso. O jornalismo esportivo é uma das áreas mais difíceis para a atuação das mulheres, isso acontece por ser um espaço predominantemente masculino, onde elas são inferiorizadas e objetificadas. Após casos recentes de assédio envolvendo mulheres repórteres, surgiu o manifesto #DeixaElaTrabalhar, que uniu várias profissionais em um trabalho para lutar contra o assédio moral e sexual, dentro e fora das redações.
Pelo 4º ano consecutivo o país cai algumas posições no ranking de liberdade de imprensa. Atualmente, o Brasil ocupa a 111ª colocação, ou seja, está na “fase vermelha” considerada de difícil atuação jornalística.
Regiões
Apesar da região sudeste concentrar maiores números de violência contra jornalistas, o centro-oeste possui o maior índice de violação à liberdade de imprensa. O relatório destaca também o aumento da censura (750%) e das agressões verbais/ataques virtuais (280%) de 2019 a 2020.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lançou uma cartilha informativa para orientar jornalistas durante o exercício da profissão. O objetivo do material é proteger os profissionais contra ameaças e o assédio online.
“Embora esse tipo de retaliação seja comum a todos os jornalistas, percebe-se que, em particular, as jornalistas mulheres vivenciam ataques puramente relacionados à condição de gênero. Em alguns casos, ainda se pode constatar a ocorrência de uma campanha organizada por grupos de interesse para constranger e silenciar os jornalistas”, destaca um trecho da cartilha.
O conteúdo produzido é uma parceria da Abraji e do Observatório da Liberdade de Imprensa do Conselho Federal da OAB, e está disponível gratuitamente para download.