A séria traz a volta de nomes conhecidos do público, com os protagonistas Paul Bettany e Elizabeth Olsen, além do envolvimento do próprio Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, na produção.
(Atenção, o texto contém spoilers)
O começo da série trouxe uma proposta completamente diferente para a Marvel Studios, com a estética, formato e até mesmo algumas piadas contextualizadas em homenagem à Sitcom’s de décadas passadas, como os anos 50 e 60. Seu começo chega a confundir os telespectadores que se deparam com personagens do contemporâneo e fantasioso universo Marvel, lidando com rotinas banais e conflitos corriqueiros, sem abrir mão de seus poderes e identidades que não nos deixam esquecer que aquela série retrata os heróis que conhecemos ao longo de mais de 12 anos de filmes.
Em alguns breves momentos, no entanto, tínhamos sutis jogadas de roteiro que davam pistas do que descobriríamos mais tarde: todo aquele universo se trata de uma bolha hexagonal do poder de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) que, com o choque do luto pela morte de seu amor Visão (Paul Bettany), englobou a cidade de Westville e dominou a mente de seus moradores para criar uma fantasia onde ela vivesse uma vida perfeita com sua família, até mesmo com filhos originários de seu poder, enquanto suas memórias eram reprimidas pelo choque do seu próprio surto de poder que criou aquilo tudo.
Mas ela não era a única peça pensante daquela cidade, conforme as décadas fictícias de sua Sitcom (formato preferido de séries de sua infância que a inspirou a adotá-lo na realidade paralela) avançavam, Visão ia descobrindo as falhas de seu mundo, personagens invasores atrapalham a continuidade e estabilidade de sua fantasia, como Monica Rambeau (Teyonah Parris) que adentra como investigadora e no decorrer da série ganha um grande protagonismo em diversos momentos, com suas ações questionando Wanda e ganhando poderes.
Ou então a grande vilã da série Agatha Harkness, que traz a presença do “FakePietro”, uma imitação de seu irmão morto, além de interferir em inúmeros eventos chave da trama com o objetivo de descobrir a origem do poder tremendo de Wanda.
Ela o descobre no episódio 8, em que revela as memórias suprimidas da protagonista e identifica que ela é a feiticeira mais poderosa, a Feiticeira Escarlate, dona da magia do caos capaz de alterar a realidade. Tudo sem esquecer que no lado de fora tem uma organização de inteligência, a S.W.O.R.D., tentando parar Wanda e trazendo personagens secundários de filmes anteriores para contrapor o maligno diretor da organização que estava claramente mal intencionado.
O início e desenvolvimento de WandaVision são quase revolucionários, passando por aparições e revelações totalmente baseadas no desenrolar do roteiro que são genuinamente originais para os padrões do universo Marvel, quebrando a fórmula quase sagrada de construção dos eventos nos filmes, demonstrando não só coragem na proposta de ser uma série que se emaranha no universo de filmes e dando continuidade e prelúdio, como também corajosa em fugir dos formatos que o público está acostumado e apostar nisso semana após semana.
No entanto o final da série perdeu totalmente a coragem e essência diferente construídos até agora. Primeiramente, Monica que tinha um dos maiores tempos de tela e teve o desenvolvimento mais gritante, passou de uma simples humana à uma superpoderosa capaz de atravessar as defesas de Westville. Ainda assim foi descartada dos acontecimentos finais, inutilizando sua presença lá dentro ao ponto de nos questionarmos se todo aquele desenvolvimento era realmente necessário.
O roteiro faz isso inutilizando também o “FakePietro”, que mesmo sendo uma imitação do irmão morto de Wanda que carregava suas memórias, poderes, acaba por não ter relevância alguma no final também. Duas bases importantes de acontecimentos que movimentaram a trama até agora e tinham muito potencial guardado, foram resumidos à uma pequena luta de dois minutos e uma conclusão rasa que tirou toda a significância de ambos.
Isso inclui até mesmo o ato heroico de Monica em parar as balas que acertariam nos filhos de Wanda, que tornou-se anticlimático, tanto pela direção pouco empenhada em dar um acabamento dramático na cena, quanto pela estranheza de roteiro que isso trouxe, pois os gêmeos demonstraram poder o bastante para frear as balas sozinhos.
Sem falar em quem as atirou, o diretor da S.W.O.R.D, cuja única atitude realmente significativa no final foi esse tiro. O personagem acaba sendo derrotado por Darcy (Kat Dennings) que estava literalmente apenas em uma van desde o episodio 7, e mesmo fazendo parte do time de contraponto aos militares com certo protagonismo, só teve essa ação de útil, sendo descartada tão pifiamente quanto o diretor que era não só antagonista principal do núcleo militar da trama, como figura importante na cronologia de enlouquecimento de Wanda. O núcleo militar/fora de Westville se mostra completamente sem relevância no final, mesmo que em todos os episódios até agora tenham sido grandes engrenagens no roteiro.
Monica, FakePietro e todo um núcleo da série que até agora foram partes mais que importantes para o desenvolvimento de todas as tramas possuem conclusões apressadas, irrelevantes e esquecíveis, no fim, “…A Agatha e ninguém mais…” foi levado muito ao pé da letra, e tudo foi resolvido em um embate de magia e diálogos expositivos.
As perguntas foram respondidas sim, da forma mais sem graça possível, com Agatha expondo todas as informações de forma bem explícita em uma luta de herói contra vilão, retornando à formula Marvel dos filmes.
Aliás, era perdoável a pouca exploração de artifícios mágicos variados (a exemplo das magias do Doutor estranho em Guerra Infinita) por se tratar de uma série e não de um filme. Mas é inadmissível a presença de falas de efeito amadoras repetidas pela vilã, e frases extremamente explicativas sobre poderes usados na batalha. Nem parece que em um capítulo antes houve o marcante “O que é o luto, se não o amor que perdura?”.
No fim, houve uma conclusão: totalmente abaixo do nível da série, a coragem se esgotou antes do fim e um passo para trás foi dado. Embora o episódio tenha alguns pontos altos como o embate filosófico de Visão contra Visão branco e a ascensão de Wanda à sua forma de Feiticeira Escarlate, foi um final no mínimo indigno e covarde. Que esse seja pelo menos o primeiro passo para inovações futuras, e que seu início e meio sejam lembrados.
Créditos
Texto: Matheus Antônio