Senta que lá vem história… Essa é a profissão dos Contadores de história, que esta semana (dia 20 de março) celebraram seu dia. Muitos são professores ou atores que transmitem em fala as histórias escritas. A data passou a ser comemorada em 1991 na Suécia, com o objetivo de reunir os Contadores de todo o mundo e fazer um dia cheio de histórias e surpresas.
A narração de uma história tem o objetivo de potencializar a força de um texto por meio do olhar, do tom de voz e dos movimentos corporais. A função do contador é levar a platéia a entrar na história usando a imaginação e vários recursos lúdicos.
Como a professora Mariza Pinheiro, conhecida pelos diversos personagens em que se fantasia, de sereias, bonecas, bichos e até super-heróis. Ela ama o que faz e já capacitou outros colegas para aprender a contação de história. Para Mariza, a arte é mais que uma ferramenta de entretenimento, é uma forma de despertar a leitura nas crianças, além de trabalhar a criatividade delas.
“As crianças precisam de muito estímulo para a leitura e a contação é uma forma de envolvê-las nesse universo, porque desperta a curiosidade em saber mais, conhecer e assim acabam lendo outras histórias. Tenho caso de alunos que me encontram e dizem que já leram outros livros. Fico muito contente quando isso acontece”, destaca.
Mas a habilidade envolve não só o conhecimento de leitura, também a arte da atuação, de interpretar personagens e, em muitos casos, é preciso ter uma veia humorística, gênero dos mais apreciados pelas crianças, que adoram dar boas gargalhadas.
A atriz Rosa Rente também trabalha com a contação de história e destaca que o feedback é um dos melhores. “Amamos aplausos, mas o conta mais história tia é ainda mais gostoso”. Segundo ela, a criança é sincera. Se gosta, demonstra logo e se não gosta também. “Quando conseguimos prender a atenção dela é incrível, dá uma sensação tão boa, elas são diretas e sempre falam a verdade”.
Mas a arte não é tão fácil como parece. Conquistar as crianças tem lá seus segredos, como conta o professor Fabio Souza, conhecido pelo personagem Fabio Nescal. “Para conquistá-las, temos pouco tempo, de 5 a 15 minutos para conseguir a atenção delas e para isso precisamos além do talento, de muitas técnicas e ferramentas. Por isso, estamos sempre buscando aperfeiçoamento, participando de cursos e pesquisando”.
Não precisa ser criança
A arte também é apresentada para alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que já receberam leituras, com histórias mais adultas, como da escritora amapaense Ângela de Carvalho e seu personagem, Angelita, despertando a interpretação textual e discutindo assuntos sociais de vivência dos alunos.
Tem contadores que fazem da arte um ofício social, como Joca Monteiro e Lu de Oliveira. Juntos, levam a contação de história para área de ressaca da cidade. “Eu fiz um curso pela Fumcult, junto com Joca, mas na verdade já era contadora de histórias dentro da minha casa com os meus filhos. Contar histórias é trazer ludicidade e esperança”, ressalta Lu de Oliveira.
Joca Monteiro descobriu a contação num curso que fez em Belém, quando conheceu o grupo In Bust Teatro de Bonecos, que apresentou para ele a arte da contação de história.
“Vi pelas redes sociais um crescimento da arte de contação de história e quis saber mais, então, fui para Belém e lá com o pessoal do Casarão do Boneco, onde participei de oficina, me levaram para assistir as apresentações, e daí voltei para Macapá com essa injeção de ânimo. Aqui visitei as ressacas onde queria desenvolver o meu trabalho, fiz um projeto e há cinco anos me considero um contador de história”.
A Biblioteca Pública Elcy Lacerda possui o grupo Contadores de História, formado por professores e atores, que narram as lendas e contos do folclore amapaense. “A contadora Ana Maria é uma referência na arte, foi com ela que estagiei na biblioteca”, destaca Joca.
A Contação de História, infelizmente, acaba sendo uma ferramenta a mais para outras profissões, já que ainda é difícil viver somente desse trabalho. Ainda assim, o número de entusiastas vem crescendo no Estado. Em 2018, a rede de ensino de Macapá realizou uma capacitação para professores e formou 25 novos contadores de história.
Os editais de cultura das instituições governamentais já dão espaço para a Contação. O movimento vem tomando praças, shopping e ruas. Atualmente, a arte é realizada por animadores de festa, professores e grupos teatrais, além de ser usada como atividade não apenas de entretenimento, mas de inclusão social e educacional.
*Matéria reeditada de 2019.