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Turma da Mônica: Histórias que marcaram os gibis agora fazem parte do cinema brasileiro

As publicações começaram com 'Bidu' e seu dono 'Franjinha', logo depois mais personagens surgiram, formando o famoso quarteto do bairro do Limoeiro.

*Este conteúdo é uma produção da turma de Jornalismo em/de Quadrinhos, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)*

Em 27 de outubro de 1935, nascia em Santa Isabel município do Estado de São Paulo, Mauricio de Sousa, hoje, um dos mais famosos quadrinistas brasileiros. E não é pra menos, Mauricio é o criador da turminha mais conhecida que existe: a Turma da Mônica.

Maurício passou sua infância em Mogi das Cruzes junto da família, e desde muito novo sempre teve como hobby os livros e o desenho. Por saber desenhar, em 1954 depois de se mudar para São Paulo, aos 19 anos, tentou um emprego como cartunista no Jornal ‘Folha da Manhã’, mas só havia vaga para revisor e mesmo assim aceitou. Após muitas tentativas, inclusive trabalhando como repórter policial, conseguiu convencer o editor do jornal a publicar uma tirinha sua, e desde então não parou mais de produzir.

Primeira tirinha de Bidu – Foto: Reprodução

O gibi esteve presente na casa de milhares de crianças brasileiras ao longo dos anos. Responsável por influenciar o público jovem com seus personagens cativantes e com histórias divertidas para todas as idades, a Turma da Mônica é uma coletânea de quadrinhos lançada até hoje. As obras de Maurício de Souza representam 86% das vendas de HQ’s brasileiras, e possuem quase 2.000 revistas já publicadas por personagem, com exportação para cerca de 30 países.

A importância e influência dos gibis é tão grande, que o universo do Maurício de Souza foi muito além dos quadrinhos. A empresa MSP (Maurício de Souza Produções), com seus 60 anos de atuação, contagia muitos brasileiros com um parque temático da Turma da Mônica e visitas aos estúdios de arte e criação. Além disso, séries televisivas animadas como “Turma da Mônica” e “Mônica Toy”, podem ser encontradas no Youtube.

Ainda falando de tecnologia, a turminha também pode ser achada em aplicativos para dispositivos mobiles, os jogos “Mônica e a Guarda dos Coelhos”, “Estúdio de Colorir” e “Quero Ser Mônica Toy”, estão disponíveis na Apple Store e Google Play.                                                

Foto: Arquivo Maurício de Souza  (reprodução)

       

Em junho de 2019, o mais premiado e famoso autor de quadrinhos brasileiro atuou e estrelou no cinema com a adaptação de seus principais personagens dos gibis. O filme Turma da Mônica – Laços fez com que os carismáticos: Cebolinha (Kevin Vechiatto), Mônica (Giulia Benite), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) ganhassem vida e cativassem gerações que leram os gibis e assistiram as séries televisivas da turminha.

Dirigido por Daniel Rezende, a obra cinematográfica live-action brasileira ainda teve a parceria entre Maurício de Souza Produções e a ONG Ampara Animal com o intuito de destinar parte dos lucros do filme Turma da Mônica – Laços para a instituição, a qual ajuda mais de 450 abrigos para gatos e cachorros.

O projeto editorial Graphic MSP conta com a participação de vários escritores e desenhistas brasileiros. Desde 2012, ano de seu lançamento, inclui em sua coleção O livro Laços, escrito pelos irmãos Cavaggi, o qual foi a principal inspiração para a live-action da Turma da Mônica.

Entramos em contato com a assessoria de imprensa do Mauricio de Sousa e ele, apesar de estar de férias, nos disponibilizou uma entrevista via e-mail. Segue a seguir a entrevista:

1. Como surgiu a ideia de criar a Turma da Mônica e como se deu esse processo de criação?

R – Não é segredo de que desde meu início como desenhista gostava de criar personagens que tinham a ver com a minha convivência. Sempre achei que assim ficariam mais reais na cabeça das pessoas. Mônica e Magali são minhas filhas, Cebolinha, Cascão e Chico Bento são lembranças de meus amigos de infância. O Chico Bento, por exemplo, tem muito de minha infância em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo. Mas, os primeiros personagens que criei foram o Bidu e o Franjinha. 

2. Buscando a característica final do Cebolinha e da Mônica, por exemplo, o que você mais queria causar aos leitores?

R – Criança é sempre criança. Pode ser em países diferentes ou em épocas diferentes. Gosta de descobrir e de brincar. Basta contar histórias em que elas se identifiquem e as façam rir. Claro que sempre estamos buscando a linguagem do dia e da vez para acompanhar seu modo de comunicação. E quando criamos histórias para divertir também acabamos passando algum ensinamento sobre os valores culturais ou solidariedade.

3. Com o tempo, cada vez mais novos personagens surgiram. O que tornou cada um deles tão únicos e essenciais nas histórias?

R – Praticamente todas as inspirações são de minha infância e de meus filhos. Cascão e Cebolinha foram colegas que moravam perto de casa. Magali, Mônica e Maria Cebola são minhas primeiras filhas. Depois vieram mais sete filhos. Cada qual com sua personalidade.

4. Qual foi o maior desafio enfrentado na transição da Turma da Mônica para a Turma da Mônica Jovem?

R – O desafio foi criar um núcleo de desenhistas e roteiristas para essa produção que difere muito, principalmente nos desenhos, da produção da turminha clássica.   

5. Dos desenhos sólidos e balões simplistas aos traços e detalhes intensos. O que mais te inspirou a produzir a Turma da Mônica Jovem em estilo mangá?

R – Unimos o estilo “mangá” (Quadrinho Japonês) com nosso estilo para que atingíssemos os jovens em pré-adolescência que estavam deixando de ler Turma da Mônica para a linguagem da época, que é o mangá. Deu certo e virou um dos nossos maiores sucessos.

6. Durante a Pandemia os personagens dos quadrinhos estiveram presentes em campanhas de vacinação em massa e até o Cascão venceu o medo da água e lavou as mãos para sua segurança. Algum dia o Maurício, no início da criação de anos atrás, imaginou que seus personagens seriam tão influentes para crianças e adultos?

R – Sei da responsabilidade de ser um interlocutor das crianças e da influência que meus quadrinhos têm sobre elas. Assim, sempre estamos procurando, por meio da Turma da Mônica, passar mensagens sobre direitos das crianças, saúde, contra a violência e sobre a inclusão social. O cadeirante Paralaminha e a menina cega Dorinha, por exemplo, vieram para mostrar às crianças que são exatamente iguais a elas e que querem ser tratadas de igual para igual para se sentirem parte da sociedade. Esse trabalho repercute na criança que um dia será um adulto mais resolvido nessa questão. E as campanhas como a da Covid-19 com o Cascão enfrentando medo da água para uma causa de saúde, funcionou muito bem para a conscientização, não só das crianças, mas de todos os leitores que já leram nossas revistas e hoje são pais e avós.

7. Grandes adaptações para o cinema foram feitas como ‘Em Uma Aventura no Tempo’ e agora em vida real ‘Turma da Mônica Laços’. Como foi estrelar a adaptação das suas histórias?

R-  Quando vi pela primeira vez o livro dos irmãos Lu e Vitor Cafaggi, o “Laços”, logo senti que aquela graphic novel da MSP (Maurício de Sousa Produções) poderia virar filme. Justamente pela delicadeza com que eles alinhavaram os momentos de amizade sem deixar de passar pelos momentos de desentendimento e adrenalina que todos nós passamos na infância. O Daniel Rezende começou a resolver a perfeita adaptação para o cinema quando soube escolher as quatro crianças que viveriam os personagens principais da turminha. Depois também soube trabalhar todos os ingredientes de um bom filme de amor, ação e solidariedade. Não só para as crianças, mas para todos que, algum dia, leram nossas historinhas. É para toda a família. Ficou perfeito como nem eu imaginava pudesse ser.

8. O que mais te emocionou ao assistir o filme Turma da Mônica Laços?

R – Naquele momento, passou pela minha memória toda uma história, desde quando meu pai me levava ao cinema no interior, até a produção desse primeiro live-action de minhas criações. Aqueles momentos, quando ia ao cinema para ver produções cheias de magia e sentimentos, acompanham-me até hoje. Eram filmes de aventura como “Flash Gordon”, “Tarzan” e depois os românticos, como “E o Vento Levou”. Hoje assisto muito a séries, mas os filmes de super-heróis estão cada vez melhores no cinema.

 

A “tulminha” da “Lua” do “Limoeilo”

Agora vamos saber um pouco dos principais personagens dessa turminha:

  • Bidu
As fases de Bidu – Foto: Reprodução

Assim como todos os outros personagens foram inspirados em pessoas de convívio do Mauricio, o cãozinho Bidu teve sua inspiração em um cachorro da raça Schnauzer que era da vizinha de sua avó. Já o jeito de Bidu, foi inspirado em Cuíca, o cão da família, que era bastante esperto e brincalhão.

Bidu e seu dono Franjinha foram os primeiros personagens produzidos por Mauricio, as primeiras tirinhas, como vimos anteriormente, foram publicadas no Jornal Folha da Tarde, onde na época Mauricio trabalhava como repórter policial. Após dois meses da primeira publicação de Bidu, as tirinhas se tornaram diárias, e logo em seguida Bidu ganhou sua própria revista junto com Franjinha.

  • Cebolinha
Foto: Reprodução

Cebolinha é um dos protagonistas e é considerado um dos mais engraçados dos personagens da Turma. Tem como característica marcante a dislalia, que é a troca da letra “R” pela letra “L”. Quem não dá divertidas gargalhadas com essas “tlocas” né?! Cinco espetados fios de cabelo e planos infalíveis para derrotar Mônica, sua rival. Era um dos personagens principais, até o surgimento da dentucinha.

A inspiração para o personagem veio da forma como seu pai chamava um amigo de seu irmão, por ter o cabelo parecido com o de uma cebola.

Cebolinha ganhou o coração de seus leitores com seu jeitinho difícil de aturar. Estabanado e único, é um causador de problemas. Teimoso, sempre acaba levando a pior, mas mesmo tendo esse jeito arrogante, Cebolinha tem um coração gigantesco, percebemos isso no seu relacionamento com sua família e até mesmo com seus amigos.

  • Mônica
Foto: Reprodução

Chegou a hora de falar sobre a dentucinha mais estressada que conhecemos (e mais amada também). Mônica, a protagonista dos gibis mais conhecidos pelo mundo, foi inspirada na filha do seu criador, Maurício, que tem o mesmo nome da personagem.

Originalmente, Mônica era coadjuvante na tira protagonizada por Cebolinha em 3 de março de 1963, quando fez sua primeira aparição. Com o passar do tempo foi ganhando espaço até se tornar a personagem principal dos quadrinhos, com seu gênio forte e sensível.

Em 1970, passou a estrelar sua própria revista, os personagens passaram a ser chamados de ‘Turma da Mônica’. A personagem é embaixadora do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), dentre muitos meios que levam seu nome. Estrelou diversos filmes, peças teatrais e livros, sempre como protagonista.

Evolução dos traços de Mônica. – Foto: Arquivo pessoal.

  • Magali
Foto: Reprodução

Magali, a comilona da turma, e melhor amiga de Mônica, estreou em 1964 no grupo e sua inspiração veio da filha de Mauricio de onde herdou a aparência e personalidade.

É reconhecida pela sua fome que, diga-se de passagem, é gigante. Meiga, divertida e talentosa, Magali impressiona a todas com sua energia e suas manias. É fascinada por gatos, tanto é que seu mascote é um, o Mingau que foi adotado por ela. Sua comida predileta é melancia, que virou sua marca registrada. Em 1989 Magali ganhou seu próprio gibi.

  • Cascão
Foto: Reprodução

Cascão é conhecido pela sua mania de não tomar banho de jeito nenhum, sua primeira aparição foi em 1963. Mauricio revelou para a gente que Cascão foi inspirado em um amigo de sua infância e foi criado junto com cebolinha, mas durante alguns anos Mauricio teve receio de como seria a aceitação do personagem por conta de seus hábitos higiênicos. Durante as histórias, Cascão é perseguido por vários vilões que tentam fazer com que ele tome pelo menos um banhinho, todas as tentativas são frustradas, claro. Cascão, assim como Mônica, Magali e Cebolinha, também possui sua própria revista.

Créditos
Texto: Beatriz Viegas e Lorena Lima
Professor: Prof. Dr. Ivan Carlo

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