Na época, na capital do Território, as poucas escolas só ofereciam até o ensino médio, o que dava aos moradores duas opções, se conformar e arrumar um emprego, ou seguir para outros estados e concluir os estudos. Raimundo Viana, após chegar em Macapá a convite de um amigo da família, que enxergou no adolescente de Cametá um potencial, viu as portas se abrirem, e junto com outros jovens foi pioneiro ao mostrar para o Brasil que no Território havia pessoas dispostas a crescer na vida.
Raimundo fez parte da famosa Turma do Buraco, que era um incentivo do Governo Territorial para que jovens plantassem as árvores no centro, onde começou a conviver com outros que formavam a juventude promissora da cidade. De lá, recebeu o convite e foi parar no gabinete do governador Terêncio Porto, onde conheceu os redatores Alcy Araújo e Artur Nery Marinho, que despertaram em Raimundo a paixão pelo jornalismo, e começou a escrever para os jornais A Voz Católica e Mensagem do Amapá.
A missão dada pelo governador, para que acompanhasse um visitante, deu ao autor a oportunidade de estudar no Rio de Janeiro. “Quem eu estava acompanhando era sobrinho do governador, que fez o convite. Terêncio Porto me disse que eu podia levar mais um amigo, e eu escolhi Urubatan Coutinho. Mas no caminho de casa encontrei Nestlerino Valente, que se ofereceu para ir também. Ao fazer a proposta para o governador de irmos os três, ouvi que Nestlerino era subversivo, e se manifestava contra o governo. Então argumentei que era melhor ele longe daqui. E fomos os três”, conta o autor.
Na então capital do Brasil, Raimundo seguiu a paixão e foi estudar jornalismo, e outro amor, a hoje esposa, Maria Zeuza Cavalcante, namorada do colégio, o fez exercer a escrita nas longas cartas que chegavam via correio. Junto com as correspondências, vinham os textos manuscritos para A Voz Católica, que ela datilografava e entregava para o padre Caetano Maiello. As dificuldades que os estudantes passavam, o esforço para se formar, as brincadeiras da época, tudo foi registrado na Coluna de Férias.
Os 21 entrevistados são pessoas de renome na cidade, como o médico Artur Torrinha, o filósofo Guilherme Jarbas, o professor José Figueiredo, o Savino, engenheiro Manoel Duca, os agrônomos Iraçu Colares e Walter Sobrinho, entre outros pioneiros. Alguns, Raimundo voltou a entrevistar depois, já com a vida consolidada. Além das entrevistas, que retratam a vida época, o livro traz notas da sociedade estudantil, dos nomes dos aprovados nos vestibulares, até das vitórias dos desportistas.
Raimundo seguiu o caminho profissional na área de contábeis, onde exerceu uma brilhante carreira, mas nunca esqueceu o jornalismo nem a vida em Macapá. “Fiz minha vida no Rio de Janeiro, mas nunca esqueci esta cidade e sempre volto. Resolvi reunir as entrevistas no livro porque é um importante registro da época, saber como pensavam os jovens sobre o futuro. E saber que a maioria está bem e soube aproveitar e muito importante, porque fomos pioneiros e temos que dar exemplos”, disse o autor. (Mariléia Maciel)