Raimundo Viana lança livro retratando juventude estudantil da década de 60
Os sonhos, dificuldades e projetos dos jovens amapaenses que saíram do Território do Amapá na década de 60 para estudar, após terminar o segundo grau, foram registrados no jornal A Voz Católica, na Coluna de Férias, escritos por Raimundo Viana Pereira. As entrevistas, que serviram de incentivo para que muitos partissem para outros estados, de onde voltavam no período das férias, foram republicadas no livro Reminiscências de um Jornalista, que o autor lança nesta segunda-feira, 4, na Biblioteca Elcy Lacerda.
Na época, na capital do Território, as poucas escolas só ofereciam até o ensino médio, o que dava aos moradores duas opções, se conformar e arrumar um emprego, ou seguir para outros estados e concluir os estudos. Raimundo Viana, após chegar em Macapá a convite de um amigo da família, que enxergou no adolescente de Cametá um potencial, viu as portas se abrirem, e junto com outros jovens foi pioneiro ao mostrar para o Brasil que no Território havia pessoas dispostas a crescer na vida.
Raimundo fez parte da famosa Turma do Buraco, que era um incentivo do Governo Territorial para que jovens plantassem as árvores no centro, onde começou a conviver com outros que formavam a juventude promissora da cidade. De lá, recebeu o convite e foi parar no gabinete do governador Terêncio Porto, onde conheceu os redatores Alcy Araújo e Artur Nery Marinho, que despertaram em Raimundo a paixão pelo jornalismo, e começou a escrever para os jornais A Voz Católica e Mensagem do Amapá.
A missão dada pelo governador, para que acompanhasse um visitante, deu ao autor a oportunidade de estudar no Rio de Janeiro. “Quem eu estava acompanhando era sobrinho do governador, que fez o convite. Terêncio Porto me disse que eu podia levar mais um amigo, e eu escolhi Urubatan Coutinho. Mas no caminho de casa encontrei Nestlerino Valente, que se ofereceu para ir também. Ao fazer a proposta para o governador de irmos os três, ouvi que Nestlerino era subversivo, e se manifestava contra o governo. Então argumentei que era melhor ele longe daqui. E fomos os três”, conta o autor.
Na então capital do Brasil, Raimundo seguiu a paixão e foi estudar jornalismo, e outro amor, a hoje esposa, Maria Zeuza Cavalcante, namorada do colégio, o fez exercer a escrita nas longas cartas que chegavam via correio. Junto com as correspondências, vinham os textos manuscritos para A Voz Católica, que ela datilografava e entregava para o padre Caetano Maiello. As dificuldades que os estudantes passavam, o esforço para se formar, as brincadeiras da época, tudo foi registrado na Coluna de Férias.
Os 21 entrevistados são pessoas de renome na cidade, como o médico Artur Torrinha, o filósofo Guilherme Jarbas, o professor José Figueiredo, o Savino, engenheiro Manoel Duca, os agrônomos Iraçu Colares e Walter Sobrinho, entre outros pioneiros. Alguns, Raimundo voltou a entrevistar depois, já com a vida consolidada. Além das entrevistas, que retratam a vida época, o livro traz notas da sociedade estudantil, dos nomes dos aprovados nos vestibulares, até das vitórias dos desportistas.
Raimundo seguiu o caminho profissional na área de contábeis, onde exerceu uma brilhante carreira, mas nunca esqueceu o jornalismo nem a vida em Macapá. “Fiz minha vida no Rio de Janeiro, mas nunca esqueci esta cidade e sempre volto. Resolvi reunir as entrevistas no livro porque é um importante registro da época, saber como pensavam os jovens sobre o futuro. E saber que a maioria está bem e soube aproveitar e muito importante, porque fomos pioneiros e temos que dar exemplos”, disse o autor. (Mariléia Maciel)