Em anos dedicados à cultura amapaense, a Universidade do Samba Boêmios do Laguinho completa neste sábado, (2), 67 anos de paixão pelo carnaval e pela comunidade que é homenageada no nome da escola. Paixão essa que atravessou gerações e continua pulsando até hoje em quem trabalha com orgulho no ofício do carnaval.
Cláudio Rogério, 46 anos, é prova viva de que o carnaval é feito com muito suor, mas proporciona momentos inesquecíveis. Com 32 anos de trabalho pela Universidade, o ex-diretor de carnaval da agremiação recorda com carinho dos tempos de samba.
Hoje, Rogério já não faz mais parte da Boêmios, mas lembra que no início, passou por todos os pontos artísticos antes de chegar na Coordenação. “Fui ritmista, aderecista, decorador, também participei da comunicação, até chegar no cargo de Diretor de Carnaval. Tivemos experiências grandes na Organização da Boêmios, nos últimos 10 anos trabalhamos em um processo chamado ‘Revolução Estética Boêmios’ que mudou o comportamento na hora de fazer carnaval no estado do Amapá”, conta.
Marcado na história
“Ao lado de Heraldo Almeida, Vicente Cruz, Alan Sales, e outras pessoas, conseguimos colocar dentro do carnaval da escola um novo conceito, isso para nós foi muito importante. Tiramos proveito disso para a nossa vida, como eu trabalho dentro do jornalismo cultural, a Boêmios foi um trampolim maravilhoso para a nossa formação. Sempre digo que o ano novo não começa dia 1º para o boemista, começa dia 2 de janeiro. A escola faz a abertura do carnaval amapaense nesse dia, com o seu aniversário. A Boêmios do Laguinho é a Gênesis do carnaval do estado“.
Segundo Rogério, há mais ou menos 10 anos, a escola criou um projeto chamado “Movimento Vento Norte”, que tinha o objetivo de massificar a Boêmios do Laguinho e expandir essa cultura para os bairros periféricos da cidade, não se restringindo somente ao local de origem. “E assim nós começamos a ganhar novas pessoas, uma Boêmios com a cara da juventude”.
No Brasil, as agremiações surgiram em meados do século XX, e estavam ligadas à popularização e ao crescimento do samba e do carnaval.
Projetos em forma de samba
Alan Sales, 41 anos, membro do Conselho Deliberativo e da Comissão de Carnaval, integra a parte burocrática e também o setor criativo da escola de samba. Assim como Cláudio, Alan também fez parte do grupo que deu novos rumos à agremiação.
“Para nós, é motivo de grande satisfação dar continuidade ao legado dos Fundadores da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho. Nossa motivação para manter vibrando o pavilhão vermelho e branco, reside no conjunto de conquistas da nossa agremiação carnavalesca ao longo desses 67 anos de existência e na paixão da nossa imensa comunidade. Temos uma verdadeira paixão pelo Boêmios do Laguinho, cultuamos esse amor no dia a dia, assim como a devoção por São Benedito”, diz o conselheiro.
A falta de incentivo não é uma realidade distante para a organização vermelho e branco, que assim como outros setores, precisou parar suas atividades por conta da pandemia. “As dificuldades de manter funcionando as instituições culturais no Amapá são muitas e não dizem apenas respeito à falta de investimentos públicos ou privados no setor, mas pela conscientização da importância do papel da cultura na transformação social, principalmente onde existe carência por ausência efetiva do estado e dos serviços básicos que ele deveria oferecer”.
A Associação é a maior detentora de títulos do carnaval amapaense, acumulando o saldo de 17 vitórias.
“O momento em geral é extremamente delicado em diversos aspectos, a crise econômica e de saúde provocada pelo novo coronavírus trouxe um pouco mais de drama a essa situação. Alguns sinais já apontam que o setor cultural será um dos mais afetados no pós pandemia. Acontece que, depois de qualquer crise, com a desculpa de conter gastos e investir apenas em setores mais essenciais, a cultura será sacrificada e as dificuldades, que já são muitas em tempos normais, serão ainda maiores”, afirma Alan.
De acordo com um estudo nacional realizado pela FGV, em parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa e o Sebrae, houve uma queda de 31,8% do PIB no setor cultural e de economia criativa em 2020, o que os coloca na lista dos setores mais afetados pela pandemia da Covid-19.
Em comemoração ao aniversário de 67 anos, a Organização da Universidade do samba vai realizar a live “Papo Boêmio” com a participação de vários membros que já passaram pela vermelho e branco.
LIVE Papo Boêmio
Data: 02 de janeiro (sábado)
Horário: 19h30
Transmissão pelo YouTube e Facebook da Boêmios do Laguinho.