Dia desses, recebo uma notificação de nova mensagem no meu Whatsapp. Número desconhecido. Abro o aplicativo e leio a pergunta: “Quanto custa a consulta”? – assim, mesmo, sem um cumprimento, sem um mínimo de educação… Parecia que eu estava numa esquina qualquer, um carro parando e uma voz cheia de malandragem perguntando “quanto custa o programa”.
Geralmente, meu primeiro impulso é responder da mesma forma, curto e grosso, e despachar logo a criatura. Mas meu superego, sempre vigilante, exige que eu tenha um pouco mais de empatia (e educação) e procuro dar uma resposta polida.
Alguns minutos se passam e uma nova mensagem chega à tela do meu celular: “Ah, tá muito caro! Por esse preço eu vou a um salão e faço cabelo, escova, hidratação”… Aí é a vez do meu id (que não leva desaforo pra casa) responder: “Bem, meu preço é esse. Ajeitar a cabeça por dentro pode ser tão difícil quanto arrumar a cabeça por fora. Mas você está certa. Não faça terapia”! Algumas semanas já se passaram e, até o momento em que escrevo esta coluna, a pessoa não disse mais nada.
Neste momento você pode estar pensando duas coisas: 1) Que eu estou certo e, como profissional, tenho que saber me valorizar e me impor, ou 2) que eu estou errado e agi com arrogância. Fato é que, ainda que eu estivesse naquela situação hipotética da esquina, como profissional eu preciso me valorizar (isto é uma regra fundamental). E, sim, eu tenho o direito de responder com arrogância a qualquer um que se dirija comigo de forma arrogante. Essa ex-futura cliente fez questão de tratar minha profissão com arrogância ao tentar compará-la com outra profissão como sendo algo menor – o que não é verdade…
Enfim, terapia não é pra qualquer um. Todos deviam ter o direito de experimentar uma boa psicoterapia pelo menos uma vez na vida. Mas, definitivamente, vivenciar o processo terapêutico não é pra qualquer um. Portanto, NÃO FAÇA TERAPIA se:
1- Você acreditar que “o melhor psicólogo é Jesus”;
2- Você pensa que isso só serve para momentos de crise;
3- Você acha que um terapeuta faz apenas o que um bom amigo poderia fazer por você;
4- Você não tem compromisso consigo mesmo.
É perfeitamente normal que a mente não funcione sempre 100%, assim como é normal que todos, em alguns momentos da vida, tenham febre ou dor de dente. O que acontece é que, diferentemente do que acontece com o tratamento para outros problemas de saúde, o que é recomendado para a mente é um pouco mais abstrato.
O cérebro não é um órgão simples. Ele é um reprodutor de experiências não materiais e, por isso, alguns de seus processos não se tratam com um remédio ou uma injeção, e sim através de outros métodos sendo, um deles, a psicoterapia.
Você pode acreditar no que quiser. Mas uma oração que você faça ou um aconselhamento espiritual nem sempre poderão resolver seu problema. Isso porque, ainda que a palavra seja a ferramenta fundamental de quase todas as psicoterapias, o diálogo que se estabelece no cenário terapêutico tem motivações, intencionalidades e efeitos diferentes dos de uma conversa cotidiana. O terapeuta se encarrega de que isso ocorra dessa forma.
Com certeza, a maioria dos casos em que as pessoas procuram a psicoterapia é quando elas estão atravessando uma crise. O mais frequente é que isso aconteça logo depois de uma perda, ou o fim de um relacionamento amoroso, uma despedida, a morte de um ente querido… É aí que a pessoa nota que precisa de ajuda. E, obviamente, uma boa terapia pode ajudar a elaborar e absorver esse tipo de situação. Porém, não é necessariamente esse o único momento para se procurar uma terapia. Podemos procurar a terapia para aprender uma forma melhor de lidar com qualquer tipo de situação, não necessariamente um momento crítico de nossa vida.
Além disso, nossos amigos de verdade, com certeza, sempre vão ter toda a disposição e interesse em nos ajudar se perceberem que estamos com problemas e essa ajuda é valiosa. Mas uma coisa é a sensação de afeto e companhia que eles podem nos dar, e outra muito diferente é a capacidade que eles têm para detectar e nos ajudar a tratar um problema emocional ou mental. É necessário uma pessoa capacitada que, além de tudo, não esteja envolvida de forma pessoal com o nosso problema.
Por fim, um dos maiores clichês sobre a psicoterapia é que ela é um processo extremamente sério, no qual a pessoa vai ser analisada e questionada o tempo todo. Na verdade, muitos se surpreenderiam ao saber como pode ser interessante e divertido se entregar a um processo psicoterapêutico. Quando temos uma boa disposição e vontade de melhorar, a ida semanal ao terapeuta é um laboratório pessoal. Saber mais de si mesmo com a ajuda de um profissional é algo muito fascinante. Daí que é preciso ter compromisso, acima de tudo, consigo mesmo.
O principal protagonista de uma terapia é o paciente. E este deve ter um comprometimento básico consigo mesmo. Isso se reflete na frequência e pontualidade que a pessoa dedica às sessões e em se esforçar para superar os seus problemas. É preciso querer encontrar as razões e os caminhos que levam a superar as dificuldades. Infelizmente, nem sempre é assim que acontece.