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[FORA DA GREI] Ego nosso de cada dia

Ilustração

Muita gente vê o ego como algo negativo, sinônimo de orgulho e vaidade. Frases como “o ego certamente é uma ilusão” (Deepak Chopra), “é o ego que é continuamente o sentido miserável da vida” (Osho) ou “feliz aquele que superou o ego” (Buda), são largamente usadas e reproduzidas sem o menor critério e fora de seus contextos. Quem sou eu para desmentir Chopra, Osho, Buda ou qualquer outra grande referência do mundo?! Porém, frases soltas fora de um contexto sempre são perigosas, pois mais confundem do que trazem luz ao conhecimento.


Acontece que o ego é a nossa principal instância psíquica, funcionando como mediadora, integradora e harmonizadora entre os nossos impulsos e desejos, as exigências e ameaças que nos são impostas pelos nossos pais desde a nossa infância e as demandas da realidade exterior, tais como leis e costumes que muitas vezes não fazem sentido algum, mas que nos sujeita a diversos tipos de culpa e punição no caso de as violarmos.


Temos, assim, o nosso eu entre o “diabinho” e o “anjinho”. O primeiro é o nosso diabolus (do latim, “lançar através”), o id, polo psicobiológico da personalidade, fundamentalmente constituído pelas nossas pulsões que são “lançadas através” do nosso eu para que sintamos prazer. E o prazer, em muitas tradições, erroneamente é visto como pecado (do latim peccatum, “falta”; “delito”). Daí que temos a sua contraparte, o angelos (do grego, “mensageiro”), o superego, constituído pelas “mensagens” que nos são enviadas através das introjeções e identificações com aspectos parciais dos nossos pais (proibições, exigências, ameaças, mandamentos, padrões de conduta, etc.), incluindo aí também os valores morais, éticos, ideais, preconceitos e crenças ditadas pela cultura na qual estamos inseridos.


Assim, o ego só é problema quando não consegue frear os impulsos do id e as exigências do superego. Não tem absolutamente nada de errado sentir prazer, desde que o seu prazer não fira os outros à sua volta. Todo prazer consensual deve ser livremente usufruído. Por outro lado, toda exigência irracional ou injusta, toda lei, norma, costume ou etiqueta abusiva deve ser combatida e até mesmo infringida, uma vez que isto se trata de “objetos maus”, de características tirânicas e até cruéis, que sob diversas formas de ameaças nos obrigam a nos submeter a mandamentos daquilo que podemos ou não podemos, devemos ou não devemos fantasiar, desejar, pensar, preferir, dizer, fazer e, sobretudo, ser.


Por uma sociedade de indivíduos mais saudáveis, busquemos o fortalecimento de nosso ego, isto é, da essência do nosso ser. Para que não nos tornemos um mero joguete do destino.

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