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[FORA DA GREI] A gente morre todo dia ao postar uma vida “perfeita”…

imagem ilustrativa

Esta semana eu li uma postagem interessante de uma amiga de Facebook que me chamou à atenção. Ela falava sobre estar “de saco cheio” de ser questionada sobre sua solteirice…
E ela dizia: “Ninguém morre de amor, mas morre de manter relacionamento falido só pra lacrar na rede social! […] Morre por aturar abuso psicológico, físico e patrimonial!”
E arrematou com a frase que eu achei de uma verdade única: “A gente morre todo dia ao postar uma vida ‘perfeita’”! E é exatamente isso.
A perfeição pressupõe algo que já foi feito completamente; algo acabado; terminado. De modo que, na vida, é algo que simplesmente não existe, pois a vida é dinâmica e fluida, sempre em construção.
Não existe uma vida completa, acabada, terminada. Mesmo com a morte, o que existe é transformação.
Desde que nascemos, viemos incompletos e precisamos do outro (a mãe, principalmente, ou quem quer que assuma esse papel) para nos construirmos.
Pouco a pouco vamos construindo nossa personalidade, mas sempre nos falta algo. Primeiro nos falto o seio – que, em psicanálise adquire um status supremo de símbolo da relação afetiva entre o bebê e a mãe – o seio enquanto, primeiramente, fonte de alimento e, logo depois, como fonte de prazer e afeto. A partir dos dois anos, o bebê começa a perceber que a mãe não é uma parte dele e instaura-se mais uma falta – o princípio da autopercepção da individualidade, ao qual o psicanalista francês Jaques Lacan denominava de “estadio do espelho”. E assim, a criança vai crescendo e aprendendo que sempre lhe falta alguma coisa – o que causa em todos a neurose de angústia, da qual ninguém escapa.
O problema é que crescemos e nos inserimos numa sociedade orientada pelo “ter” e não pelo “ser”, o que gera ainda mais angústia porque toda a nossa sociedade culturalmente massificada nos impõe padrões a despeito de nossa incompletude e nos impõe aquilo que muitos autores já chamam de “ditadura da felicidade” – e, agora, você precisa ter as coisas para ser feliz porque você TEM que ser feliz a todo custo!
As redes sociais estão na linha de frente dessa massificação. E está se tornando, a cada dia, uma vitrine de aberrações: Gente feliz o tempo todo; sorrindo o tempo todo; “positivas” o tempo todo; sempre muito bonitas e saudáveis e… “filtradas”… Porque ninguém pode mais sofrer. Ninguém mais pode sentir dor. A indústria (ou sistema) precisa de gente feliz e produtiva o tempo todo. Somos, como bem retratado nos filmes da série Matrix, as baterias humanas que alimentam o sistema.

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