Há tempos a educação deixou de ser uma realidade acessível a todos, principalmente no Brasil. De acordo com dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2018, 24,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos estão fora da escola no Brasil, correspondendo a 51,7%. Já dos adultos entre 18 e 24 anos, idade em que devem ingressar na universidade, 61,9% não estudam.
A pandemia e a necessidade financeira levaram muitas pessoas a abandonar os estudos. Assim como a falta de estrutura para se manter no ensino remoto, a necessidade de equipamentos e internet. “Mesmo já caminhando para o segundo semestre de ensino remoto ainda é muito difícil me concentrar nas aulas”, conta Matheus Pantaleão, 23 anos, estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal do Amapá.
Como aprendiz do curso, Matheus afirma que falta investimento em políticas públicas que possam não só trazer rentabilidade, mas valorização da cultura local. “É fundamental para o nosso desenvolvimento, tanto empresarial quanto cultural, que a gente traga principalmente as comunidades tradicionais para o centro do debate sobre esse assunto. Precisamos ouvir e colocá-los como parte da criação de políticas públicas de desenvolvimento do estado”.
Brincadeira de criança?
A evasão de estudantes se intensificou entre jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade na pandemia. Muitas crianças abandonaram os estudos para ajudar no sustento da família, contribuindo significativamente para o crescimento dos números de trabalho infantil.
Segundo o relatório realizado pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para Infância, o perfil de crianças e adolescentes que mais sofrem com o dito ‘fracasso escolar’ durante a pandemia são de pessoas negras, indígenas e com alguma deficiência, concentradas nas regiões Norte e Nordeste.
É comum crianças que abandonam os estudos muito cedo não concluam as séries restantes e nem ingressem no ensino superior, reforçando a estrutura desigual, ocupada em grande maioria por pessoas brancas.
Estudar também é luta
Matheus coloca como principal consequência dos estudos, o engajamento em movimentos sociais e o senso crítico para entender a importância de reivindicar os próprios direitos.
“Estar na rua é mostrar que a universidade tem força e produz muito. A primeira coisa que eu tenho como visão crítica do que construí na universidade é justamente a perspectiva de viver em um estado periférico, em um país periférico. Vemos quanto o nosso estado está precarizado em relação ao restante do Brasil e ao mundo. Mas apesar disso, temos um potencial competitivo gigantesco, de cultura, mercado e afins”, afirma.
No Brasil, a média de pessoas entre 25 e 34 anos que possuem o ensino superior completo é de apenas 19,7%. Esses números refletem inúmeros fatores, principalmente condições socioeconômicas e desigualdade racial.
“Para mim é fundamental que mais pessoas tenham acesso ao ensino público de qualidade. É importante que ele se expanda e não fique escasso, como está agora”.