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[coluna] O mato que a sua avó colocava na comida e o mundo das PANCs – por Gil Reis

O termo ‘PANC’ tem aparecido cada vez mais na internet, seja no Instagram em perfis de jardinagem, em vídeos de influencers veganos no youtube ou listado em resultados de pesquisas do Google relacionados ao interesse, quase que generalizado, em um modo de vida mais saudável.

Panc é a abreviação do termo “Planta Alimentícia Não-convencional”. Simplificando, panc é mato, mas não qualquer mato, é o mato que a sua avó usava para complementar a alimentação em casa. Isso porque as pancs não são nada mais, nada menos, que plantas alimentícias bem conhecidas pela sabedoria popular, mas esquecidas pela maior parte da população graças aos processos de industrialização da alimentação, urbanização de espaços rurais e desvalorização das tradições orais, entre outras mazelas da vida moderna.

Umas das histórias que sempre escuto da minha mãe é a de como a sua avó usava as folhas do cariru, um arbusto viçoso, de flores delicadas e gosto de espinafre, para dar um toque a mais no peixe e no frango. Hoje o cariru é uma das plantas que temos em casa para complementar a salada, e é até fácil de encontrar em supermercados como uma verdura exótica.

O Cariru possui um gosto semelhante ao espinafre – Foto: Reprodução

Algumas pancs se tornaram bem conhecidas graças a popularização do estilo de vida vegano, que é o caso tanto do coração de bananeira quanto da casca da banana. Outras, como a chicória, essencial em vários pratos nortistas, nunca foram esquecidas. Mas também existem aquelas que são verdadeiros tesouros crescendo no fundo do quintal, em calçadas e até em valas.

Várias dessas plantas têm até mesmo um fundo histórico bem interessante. A beldroega, por exemplo, foi utilizada por populações escravizadas para o enriquecimento da alimentação, na época propositalmente insuficiente, enquanto a ora-pro-nóbis foi tão importante na mesa da população carente de Minas Gerais que por lá ganhou o apelido de “bife do pobre”. Essas duas plantas, super poderosas em valor nutricional e benefícios à saúde, hoje são encontradas facilmente em valas e fundos de quintal. Algumas plantas que você provavelmente não sabe que podem ser consumidas mas que estão por toda parte: urtiga, taioba, erva-de-jabuti, capuchinha, caruru, picão-branco, palma, vinagreira e muitas outras.

Urtiga mansa, umas das espécies comestíveis – Foto: Reprodução

Além de serem riquíssimas no quesito valor nutricional, é comum que as pancs tenham também usos medicinais, é o caso de plantas como o dente-de-leão, que é reconhecido como uma ferramenta poderosa no tratamento de distúrbios digestivos, e do famoso camapu. Comum em qualquer terreno baldio, o camapu possui uma propriedade capaz de estimular a criação de novos neurônios, e tem sido estudado como uma alternativa para ajudar nos tratamentos de Alzheimer e Parkinson, bem como outras doenças do gênero.

 

Como consumir as PANCs?

Antes de sair por aí pegando qualquer folha do chão, dois fatores muito importantes precisam ser levados em consideração: identificação e ambiente.

Muitas plantas podem ser bem perigosas se ingeridas de modo errado, ou se ingeridas de qualquer modo. Conhecer aquilo que nós vamos consumir é o jeito mais seguro de lidar com pancs. Na rede existem vários guias e manuais de identificação.

Caruru, encontrada em moitas em ruas e quintais – Foto: Reprodução

A atenção ao ambiente também é importante, em suma, algumas pancs não podem ser consumidas se encontradas em lugares impróprios, como na beira de ruas, ou perto de lixeiras viciadas, por exemplo. Isso porque os contaminantes do ambiente ficam impregnados nas plantas e podem fazer muito mal para quem consome.

Quer saber mais sobre pancs? O Instituto Kairós disponibiliza de graça um guia prático super completo para quem quer começar a olhar o mato de um jeito diferente. Quem também oferece uma mãozinha para os interessados no mato comestível é a Embrapa, que disponibiliza um curso gratuito sobre cultivo e manejo de pancs em pequenos espaços, como varandas e quintais.

A Ora-pro-nóbis cresce facilmente em quintais – Foto: Reprodução

O momento da pandemia potencializou um impulso global em busca de uma vida mais saudável e com mais contato com a natureza. Incorporar pancs na alimentação é um jeito gostoso e fácil de começar a trilhar esse caminho. Os jardins comestíveis, como os entusiastas chamam as hortas de pancs, são simples de serem cultivados, e você pode conseguir suas primeiras mudas literalmente em qualquer lugar.


 

Perfil

Gil Reis é jornalista, social media e antenado no mundo digital. Amante do cultivo de plantas, assina a coluna de jardinagem no portal Café com Notícia.

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