Na noite da última terça-feira, (26), em entrevista ao programa de rádio ‘Café com Notícia’, na Diário FM, o professor e pesquisador, Daniel Melo, falou sobre o resultado da sua pesquisa sobre os aspectos socioeconômicos da Reserva Extrativista do Rio Cajari. “A reserva tem mais de 30 anos de criação, mas a comunidade tradicional vive ali há bem mais tempo. Existe uma cultura e uma população local que muitas vezes não é vista pelos demais, tanto pela população amapaense, quanto pelo resto do Brasil”, diz o professor.
Daniel explica ainda o que o motivou a pesquisar sobre a reserva. “Essas características de exclusão foram o que me levaram a pesquisar esse tema, porque se já é difícil para a gente que vive na capital do estado, com acesso a serviços públicos, imagine para uma população que vive no meio da floresta. Algumas indagações, nesse sentido, me fizeram escolher a reserva, em especial a comunidade do Marinho, para verificar os padrões socioeconômicos que ali se apresentam”, conta.
A reserva extrativista é composta por 27 comunidades ao todo, além de ser dividida em 3 macrorregiões: alto, médio e baixo Cajari. A pesquisa teve como foco a comunidade do Marinho, situada no Alto Cajari, com aproximadamente 30 famílias.
Matéria-prima
O professor conta ainda que mesmo trabalhando com a extração de uma matéria-prima muito valorizada, como a castanha, esses trabalhadores da comunidade não recebem uma qualidade de vida equivalente. “Os estudos apontam que o extrativismo da castanha e a agricultura de subsistência, não são suficientes para gerar uma condição de vida adequada para aquela população. Temos aspectos culturais que devem ser levados em consideração, como o apego à terra, mas precisa haver o retorno financeiro que essas atividades devem gerar para a comunidade”.
O quilo da castanha, atualmente, custa em média R$46,92 reais, e pode ser encontrada em alguns lugares por até R$60,00 reais.
A Natura, empresa brasileira de cosméticos, recebe a matéria-prima produzida pelas comunidades da reserva do Cajari, mas de acordo com Daniel, lucra bem mais do que o valor pago aos trabalhadores. “Esse não foi o foco da minha pesquisa, mas superficialmente, posso afirmar que o que se paga pelo que é produzido é muito inferior ao que é lucrado em cima disso tudo. E isso não é uma característica da comunidade do Marinho ou da reserva, outras reservas também passam por essa situação”, afirma.
“A castanha é um produto sazonal, então não é o ano todo que se produz. Ela é produzida por aproximadamente 4 meses, e toda essa produção é dividida por um período de 12 meses. Então se a população vive dentro do extrativismo da castanha e ela é produzida por 4 meses, no restante do tempo eles são descobertos”.