De todos os crimes e delitos cometidos pelo homem, a morte é o pior certo? Ninguém tem o direito de roubar a vida de ninguém, ninguém é dono de ninguém. Mas e quando você está morto ainda vivo? Como faz? Com medo de andar sozinhx? Com medo de vestir uma roupa que chame muito a atenção?
Acho que existem muitos momentos na vida que te definem de maneira extraordinária, sejam momentos bons ou ruins, você os viveu e eles são importantes para formar quem você é. Te tornam mais fortes e destemidos, tiram aquela “bobisse” de adolescente e te trazem para a vida real como um baque forte na boca do estomago.
Eu digo isso porque a realidade bate ali na porta. E foram justamente esses momentos de inocência e “bobisse” que eles se aproveitaram.
Tenho certeza que o maior sonho de umx jovem é entrar na universidade, seja em qualquer curso, você está apto a começar ali a sua própria independência. Ali há momentos de aprendizado, euforia, compartilhamento de história e experiências de vida, novas amizades e o medo.
Quando se é jovem e inocente, não nos atentamos para o perigo que nos ronda, muitas vezes se disfarça de bom moço, de uma palavra em sigilo ou não dita, de uma aproximação exageradamente gentil, uma atenção especial que você não recebe em casa ou de quem quer que fosse. Depois chega o toque, o desconforto, a dúvida, a não aceitação e depois a constatação de que você foi assediadx, abusadx e não se deu conta no começo.
Comigo foi assim, eles eram mais velhos, experientes, sabiam como enrolar uma garota, como se aproximar sem de fato serem vistos, vestem capuz de bom moço, de inteligência, gentileza e quando você retribui, é como se fosse o seu “aceito, pode fazer tudo o que quiser”. Ou muitas vezes você não retribui, em nada, absolutamente nada e mesmo assim, eles se acham no direito de ter você.
Os olhares fervorosos, as atitudes que só você mesmx vê e mais ninguém, porque a direção dos atos é uma só.
A primeira vez que percebi o assédio de um colega de curso, foi em um momento de raiva, eu estava no primeiro semestre da faculdade. Esse colega era, até então, muito atencioso, me defendia em algumas reuniões e discussões de sala, e tinha idade de ser meu pai. Como orientação dos próprios professores, nós tínhamos que tentar englobar os colegas mais velhos em nossos grupos.
O mesmo cara, fiquei sabendo após conversar com algumas colegas da turma, também havia assediado muitas outras meninas, ali, dentro da sala de aula, e também pelos corredores. Depois de algum tempo, em que já não aguentávamos mais os olhares e abordagens indevidas, decidimos conversar com a coordenação do curso, que infelizmente, não pode fazer nada por “falta de provas”, mas na verdade fazia era vista grossa pro cara.
Eu e algumas colegas resolvemos ir à coordenação do curso explicar o que estava acontecendo e pedir ajuda, mas o coordenador apenas disse que não poderia fazer nada, e pediu que mostrássemos algum tipo de prova do que estávamos falando. E nós não tínhamos, mas queiramos mesmo assim que ele tomasse algum tipo de providência, o mesmo disse que não poderia fazer nada sem provas e falou que nós deveríamos ir até a reitoria registrar uma ocorrência na ouvidoria. Com essa atitude do professor, desistimos de denunciar o assediador, e ficamos à mercê de suas atitudes. Posteriormente fiquei sabendo que o coordenador avisava ao cara que algumas alunas estavam indo denunciá-lo e que era pra ele tomar cuidado.
Outras vezes vieram, outras importunações, mas felizmente o próprio indivíduo saiu do curso, e foi quando pensamos em ter mais alívio. Mas nem tudo são flores, depois da calmaria sempre vem a tempestade.
Conforme avançamos os semestres do curso, “colegas” de outras turmas viram pagar matéria com a gente, muitos deles era homens de trinta e poucos, e foi quando caí na sandice de me tornar amiga de um deles. Eu sempre fui muito gentil e esse homem também era, mas eu nunca cheguei a dar qualquer outro tipo de intimidade que não fosse de colegas de turma. E foi quando ele passou a me perseguir, mandar mensagens parar mim, e me fazer passar vergonha na frente de outras pessoas, eram atitudes simples como, fazer que eu mudasse meus temas de trabalho para fazer com ele (o que eu nunca aceitei), me obrigar a falar com ele (ele me parava no corredor, na frente das pessoas e ficava me olhando de um jeito estranho, seus olhos – na maior parte do tempo – estavam vermelhos e sonolentos e o hálito de quem havia acabado de ingerir álcool, ele falava apenas comigo e com nenhum dos meus amigos, e só ia embora se eu respondesse). Como eu sempre andava em grupo, ele não tentou mais nada abusivo (referente ao toque), mas me oferecia bebida se tivesse algum evento na frente do bloco em que estudávamos.
Depois de um tempo, incomodada com suas ações, decidi confidenciar em algumas amigas do curso, que falaram que o individuo agia da mesma forma com algumas delas, e só não prosseguia pelo fato de a colega ter namorado e este estar junto dela quase o tempo todo. Enfim, percebendo a índole desse “cara”.
Eu já sabia que não dava para procurar ajuda da instituição, por falta de provas, então deixei pra lá, afinal, nada de “grave” tinha acontecido.
Algumas semanas se passaram e um caso de estupro dentro da universidade federal estourou. Uma jovem foi estuprada por um desconhecido dentro de um dos laboratórioa da área de saúde e o detalhe mais interessante era que esse grave caso, aconteceu duas semanas antes de tudo vir à tona. Ou seja, a universidade sabia e omitiu isso de todos. Durante a noite temos pouca iluminação ali, é tudo muito escuro na universidade inteira, além de deserto e qualquer pessoa poder entrar. Depois que todos tomaram conhecimento do ocorrido, a Unifap decidiu ou resolveu trocar as lâmpadas quebradas por novas, e fazer com que os vigilantes andassem de moto e carro. Uma hipocrisia sem igual.
E foi quando eu me alertei de que algo mais grave poderia ter acontecido comigo, ou minhas colegas. E tomei a decisão de isso não vai mais acontecer, e eu não quero que aconteça com as jovens calouras que estão entrando agora na universidade, não confunda assédio com trote, não ande sozinha em nenhum horário dentro da UNIFAP, não dê muita confiança com caras engraçadinhos e espertinhos que insistirem e tomar o seu tempo e/ou quiserem intimidade com você, não vá para as festas desacompanhada de pessoas CONFIÁVEIS, saiba observar tudo ao seu redor, não aceite bebida de estranhos, não aceite carona de pessoas que você acabou de conhecer e julga ser uma pessoa do bem, e absolutamente, não faça nada que você não queira, não deixe que a opinião dos outros ultrapasse o seu próprio respeito, a sua consciência, ajude e será ajudadx. Tomem cuidado, as vezes o monstro vem fantasiado de anjo.
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