[coluna] Será que entra para a história? – por Fernando Melo
Neste sábado, (13), o brasileiro Gilbert ‘Durinho’ Burns disputará o cinturão do peso Meio-Médio (77kg) do UFC contra Kamaru Usman, nigeriano erradicado nos EUA.
Sobre esse combate existem vários pontos curiosos, mas podemos destacar dois: o Brasil nunca teve nenhum campeão na categoria de 77kg do UFC, Durinho luta então contra esse tabu, além de tentar quebrá-lo contra um ex-companheiro de treino.
Kamaru e Durinho dividiram os tatames da academia Sanford MMA sob a tutela de Henry Rooft, amplamente conhecido por transformar grapplers em bons strikers, isto é, atletas da luta agarrada (Jiu-Jitsu, por exemplo), em trocadores hábeis (Boxe, Muay-Thai, etc). Henry inclusive se ausentou e não participou do treinamento de nenhum dos dois lutadores. Usman realizou seu camp com Trevor Wittman, na Genesis Training Center, e Durinho permaneceu na Sanford, porém treinado pelas mãos de outras pessoas.
Levando em consideração a característica da Sanford MMA, não é coincidência, portanto, que os dois lutadores tenham origem na luta agarrada, Durinho no Jiu-Jitsu Brasileiro e Usman no Wrestling Colegial norte americano. E aqui começam as dificuldades de encaixe de jogo que tornam essa luta tão interessante!
Usman gosta de controlar na luta agarrada, sobretudo no clinch e no solo estando por cima. Mas como fazer isso contra um 3x Campeão Mundial na faixa-preta de Jiu-Jitsu? Arriscado demais para um campeão burocrata como Kamaru, que em 12 vitórias no UFC tem apenas 3 pela via rápida. Para Gilbert o jogo da luta agarrada também não sugere nenhuma facilidade, considerando que Usman nunca foi quedado no UFC e além de muito forte, tem gás de sobra para fazer o jogo de clinch na grade.
Esse equilíbrio na luta agarrada, pode e deve, levar ao confronto direto em pé, onde os dois possuem características muito distintas. Usman costuma socar em linha com golpes retos, não abusa de chutes por ter um problema antigo nos joelhos e apesar de não ter tanto poder de nocaute, nunca foi visto exausto durante uma luta. É um striker de volume, acúmulo de danos, a prova foi seu nocaute apenas no quinto round contra o falastrão Colby Colvington.
Gilbert sempre luta para definir, de suas 12 vitórias no UFC, 7 foram pela via rápida, sendo 3 por nocaute. Explosivo e com grande poder nas mãos, Durinho usa muito bem chutes (sobretudo na linha de cintura) para controlar a distância e eventualmente conectar seus cruzados. A explosão física, porém, costuma cobrar um preço, fadiga no longo prazo.
Todo esse equilíbrio e imprevisibilidade torna o combate interessante, pois estilos fazem lutas, e esse casamento não favorece de forma clara nenhum dos dois lutadores! Entretanto, é importante lembrar o que foi dito no início, eles treinaram juntos por muito tempo. Na cabeça de cada um deles já existe um vencedor, o homem que vencia sessões de treino e sparring, o homem pra quem já está 1×0, 2, 3 ou muito mais. Esse fator psicológico certamente estará dividindo o octógono com os dois no sábado, alguém estará carregando uma pressão extra, e essa pressão somada ao casamento é a cereja do bolo. Temos a receita perfeita para uma grande disputa de título mundial!
Kamaru mantém ou o Durinho escreve seu nome na história? Muito difícil, mas como odeio isentões, meu palpite hoje é no brasileiro.
Perfil
Fernando Melo é Internacionalista, pesquisador, fã assíduo de esportes e há 11 anos acompanha tudo sobre Artes Marciais Mistas (MMA). Apreciador de música, política internacional e jogos eletrônicos, assina a coluna de Esporte no portal Café com Notícia.