Ícone do site Café com Notícia

21ª Parada do Orgulho LGBTQIA+: Parada Preta tem roda de conversa, empreendedorismo black e programação cultural

Diversa para além da sigla, a comunidade LGBTIA+ agrupa não só sexualidades, mas gêneros, raças, corpos e classes diferentes. Conhecidos como interseccionalidade, os debates que buscam entender as vivências a partir de diferentes tipos de violências sofridas , têm unificado causas e minorias sociais na luta por representatividade.

Com um dos maiores indicies de LGBTfobia do mundo, o Brasil computa uma morte a cada 25h de pessoas LGBTs em território nacional, sendo 8 entre 10 delas, pessoas negras; é o que aponta a pesquisa do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT.

Esse cenário se agrava quando se trata da população negra, com 45% mais riscos de desenvolver depressão que brancos. Entre homossexuais, a probabilidade de cometer atentados contra a própria vida é cinco vezes maior comparado a alguém heterossexual.

Pensando nisso, a 21ª Parada do Orgulho LGBTQIA+ promoveu hoje a Parada Preta, com o intuito de atender às demandas de representatividade dos corpos trans e negros que ainda não são contemplados na maioria dos eventos regionais e nacionais.

“Precisamos mostrar que a comunidade lgbtqia preta precisa também ocupar a programação da parada do Orgulho, que é ainda mais vulnerável dentro dessa sopa de letrinhas“, pontua Renan Almeida, historiador e um dos organizadores da parada, sobre a relevância do evento.

Como destaque na programa, a roda de conversa “Empoderamento Preto”, transmitida ao vivo pela Diário FM 90.9, abordou o empreendedorismo black e a necessidade de políticas públicas voltadas para a população negra do Amapá.

Sendo um fator agravantes das desigualdades sociais, a pandemia da COVID-19 expôs o aumento da desigualdade racial no Brasil, especialmente no mercado de trabalho. Dados do IBGE apontam que pretos e pardos, representantes de mais da metade da população do país (56,8%), foram os mais prejudicados pelos efeitos da crise no mercado de trabalho.

“Quando os tecidos sociais gangrenam, alguém de fora precisa vir para reestabelecer a ordem, e esse é o papel da política. Não dá pra falar de justiça social se a nossa sociedade ainda está impregnada de racismo. “Quando buscamos cotas para o ingresso em universidades, recebemos meritocracia. Mas quando é interessante ter nossas presenças, o congresso marcial dobra a quantidade de vagas para negros e mulheres só para garantir maior financiamento para partidos, é isso foi aplaudido por quem não compreende a crueldade disso”, explica o vereador Dudu Tavares, advogado negro eleito com o maior número de votos em 2020.

Recém inaugurado pelo Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), o Museu Municipal da História Negra foi fundado com a missão de fomentar a arte e expressões afro-brasileiras de Macapá, que também dimensiona artistas LGBTQIA amapaenses, como explicou a diretora presidente do instituto, Maria Carolina Almeida; “temos uma mini biblioteca com trabalhos acadêmicos que escrevem sobre a nossa história, livros de Negra Áurea, louças do Maruanum, artefatos religiosos e do marabaixo. Não apenas resgatar a memória mas olhar para frente sem esquecer o passado, sem desrespeitar a nossa ancestralidade”.

Organizado no Quilombo Sankofa, espaço gastronômico de cultura negra ancestral, o evento contou ainda com a participação de bandas e artistas independentes, como Maniva Venenosa, Naomi Kordec, Madame Satta, Brenda Zeni, Mc Deeh, José Simão, Lorran Ferreira, Batuque e Marabaixo da Juventude, Dj Insane, Filhos de Luanda.

Das perspectivas sobre a população negra no Amapá, especialmente no que tange o sistema de cotas para estudantes pretos e pardos a assistente social Alzira Nogueira pontuou a dificuldade da sociedade compreender que “se trata de uma prática onde coisas são negadas para alguns para garantir privilégios para outros. Quando falamos de um espaço branco por excelências, ocupar com presença preta é uma resistência. A sociedade não imagina como lavadeiras, pedreiros, não como médicos e doutores. Ser atendida por um igual é um acolhimento”, finalizou ela.

Para acompanhar a agenda da 21ª Parada do Orgulho LGBTQIA+, siga o perfil da evento no Instagram: https://instagram.com/oficial_paradalgbtmacapa?utm_medium=copy_link

Sair da versão mobile